sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Em defesa dos "em cima do muro"

"Aquele que sabe falar sabe também quando fazê-lo." Arquimedes



Um jeito de ser bem conhecido e que muitas vezes passa desapercebido mas quando desmascarado acaba sendo alvo de penosas críticas. Quero ajudar pessoas com esse perfil, que sofrem das maiores injustiças e mostrar que suas limitações quando bem trabalhadas resultam em grande probabilidade de sucesso!

Primeiro que pessoas “em cima do muro” não significa relaxadas ou preguiçosas. Na verdade ela não tem certeza ou opinião formada, mas isso não as impede de tomar uma atitude quando necessário. O problema é que nem sempre isso é percebido e elas mesmas acabam sentindo-se culpadas e acreditando que são assim realmente.

Acredito que esse comportamento ao ser desenvolvido se torna o mais eficiente pra alcançar a sabedoria. Entretanto, o caminho é árduo e tortuoso e a maioria não chega longe, pois pela própria dinâmica social elas tendem a imitar outros comportamentos ou mesmo desenvolver uma baixa estima. O senso comum tem repulsa a esse comportamento pois sua origem vem do medo, da insegurança e ninguém quer ser intitulado assim e poucos aproveitam seu potencial.

Durante seu desenvolvimento ele pode trazer alguns prejuízos para o individuo e seu meio. Sentimento de culpa e impotência frente os desafios e pouca contribuição para resolução de problemas. É também sinônimo de fraqueza, falta de atitude e personalidade. Acontece que isso faz parte do amadurecimento e aí está o lado positivo. O conflito com a “não certeza” nos motiva na busca da talvez inatingível verdade suprema! Mas lembre-se que a busca não pode parar!

Sabemos que o processo de aprendizado começa na ignorância passa pela confusão e termina com o conhecimento. Um sujeito com essas características passará muito tempo como uma pessoa confusa, indecisa, e de certa forma infantil. Isso acontece pois a compreensão profunda dos fatos é muito complexa e requer tempo e abstração. Mas insistindo fatalmente este indivíduo estará trilhando o caminho da sabedoria.

A bem verdade é que esse caminho é o mais corajoso. Mesmo com as melhores intenções você será julgado como alguém sem personalidade, sem atitude e covarde, análise essa totalmente injusta e humilhante. Tomar partido é muito simples, basta concordar ou discordar, por outro lado a indecisão racional é bem mais complexa, pois é necessário embasamento e argumento para sustentar algo que ainda não existe certeza sendo que em parte você concorda com o original. O resultado é que será muito improvável que você sustente um argumento por muito tempo, perdendo assim sua credibilidade.


E ai está o ponto. Normalmente, principalmente em empresas existe esse estigma de que ao ficar “em cima do muro” você está fadado ao fracasso. Claro que há casos assim, burros e vagabundos estão cheios no mercado. Mas isso é meia verdade, pois como disse, ficar “em cima do muro” não significa que você não é capaz de tomar decisões mas sim que toma decisões embasadas já calculando os pontos negativos e como agir nas possíveis adversidades, coisas que só a precaução e o bom senso proporcionam.
É notório casos de quem arriscou tudo e construiu um império ou que quebrou várias vezes até conquistar a fortuna.

Isso existe, mas são raríssimas exceções, a maioria cresce aos poucos com cautela sabendo onde pisar. Não se equivoque achando que você ficará para trás assim.
"Os cautelosos raramente se equivocam." (Confúcio)

Segunda fase, amadurecimento.


A medida que você aprimora essa personalidade maior é sua percepção do que o cerca. Tendo essa percepção automaticamente você acaba se tornando um mediador, porém mesmo sendo ponderado a tendência é que você se torne um excluído onde ambos os lados não o aceita e o descrimina como se inimigo fosse. E mesmo com toda ponderação são os mais acusados de cabeça dura e arrogante e por incrível que pareça de extremista, “8 ou 80”.

Tenho em mente que este comportamento é o melhor para nossa evolução. Ouso até dizer que outras condutas não seriam necessárias, por exemplo, indivíduos muito certos de si, que têm a última palavra e certezas no que falam. Em uma análise rasa, você até perceberá que pessoas ditas de personalidade forte, são essenciais como lideres ou que fazem as coisas acontecerem e que conseguem impor e controlar determinadas situações importantes.

Porém numa analise profundo você perceberá que tais condutas são dispensáveis.
Essas pessoas nunca serão sábias, suas dúvidas quase inexistem e suas “verdades” são facilmente encontradas e impostas. Esse comportamento é um atraso, pois ele induz a erro, ou não, quem ainda é ignorante, atitude que sempre inibi capacidade de discernimento de quem a sofre.

Porém tem um lado ainda pior que é uma das chaves pra nosso gargalo evolutivo. Esse comportamento prepotente e que se torna até fanático, cria também uma bipolaridade onde os donos da verdade que de tão opostos nem ousam um confronto, tamanha é a impossibilidade de algum acordo! Isso é muito claro na questão ciência x religião. Tão distantes que torna-se impraticável um diálogo. (Eu comento sobre o assunto na parte I).

Isso acarreta sérios problema. Simplesmente não há debate, pois para um cético, qualquer evidencia pode ser uma falsificação e para um crente nenhuma prova é suficiente pra desmistificar sua crença. Perceba que os dois são iguais invertendo apenas os nomes dependendo do contexto. De conhecimento dessa polaridade basta um mínimo de bom senso pra perceber que o melhor é não discutir.

Esse é o atraso, idéias e lógicas que poderiam ser desenvolvidas, mescladas e aperfeiçoadas ficam estagnadas.

Contudo, esse entrave é quebrado justamente, e por isso são tachados de arrogantes e cabeça dura, por essas pessoas ditas “em cima do muro”. Elas vêem uma possibilidade de diálogo onde antes não existia, e por não tomar partido conseguem se colocar num papel de “advogado do diabo” defendendo o lado que está sendo atacado. Veja que a atitude é de equilibrar, pois um dos lados não tinha como se defender, porém a conclusão que se chega é de que ele tomou o partido do inimigo.

Criado esse entrave ele lança o poder da dúvida, ao mesmo tempo em que compreende ambos os lados acabando por despertar o interesse dos extremos. Interesse, a princípio, não pela aceitação da crença oposta, mas sim da vontade que o crente tem de capturar o indeciso para sua verdade absoluta! O lado bom é que isso proporciona grandes debates e reflexões sobre os assuntos, onde cada um se aprimora para provar suas verdades tendo inclusive que entender o próprio inimigo.


É esse contraditório, a incerteza é que fez com que evoluíssemos até aqui, é ser cético mas não descrente.
Por isso me considero agnóstico, não só para o lado espiritual como para qualquer outra coisa.Um agnóstico não crê nem descrê, portanto não tem nenhum preconceito para aprofundar em qualquer dos lados. Teoricamente conseguem ir de um extremo ao outro descobrindo várias ligações existentes entre conhecimentos distintos, que pela arrogância humana tornam-se imperceptíveis.

Entretanto para se conquistar isso é necessário um amadurecimento filosófico e acredito que pessoas, que durante seu crescimento pareciam indecisas e imaturas tem esse talento. E ele deve ser aproveitado, pois durante o processo de aprendizado várias situações que antes você não fazia por receio, na verdade eram corretas. Às vezes não agredimos ou humilhamos os outros não por falta de vontade, e sim por medo. Mas quando se tem sabedoria das coisas descobrimos a verdade e alternativas melhores para lidar com a mesma situação.

Esta é a dica para os “em cima do muro”, use suas limitações a seu favor. As pessoas têm mania de achar que sabem demais e opinam em tudo. Cuidado com isso! Se já sabemos de nossos defeitos fica claro que quase ninguém sabe o que fala e a busca é apenas para manter a vaidade. Por isso não se sinta burro ou rebaixado, tome a atitude correta, aproveite sua insegurança para ouvir, perguntar, refletir. Só assim que se cria embasamento para ter o que opinar. Uma opinião deve ser coerente, pois caso contrário perde a função de existir sendo bem mais construtivo o silêncio.

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